quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Contagem Regressiva

No ínicio deste blog falei que ainda faltava muito para chegarmos lá. Como na vida, nunca chegamos a lugar algum, mesmo depois da finalização do curta, continuaremos os trabalhos que serão menos criativos e mais comerciais, visando exibições, festivais e qualquer tipo de divulgação (boa ou ruim). Pois é, falta muito e ao mesmo tempo falta pouco para terminarmos a pós-produção. Pouco, pois o tempo e o prazo são curtos e relativamente já fizemos a maior parte do que deveríamos ter feito. Muito, pois estamos na etapa final, onde detalhes pequenos costumam roubar nosso (cada vez mais) precioso tempo. É hora de juntarmos todas as peças do jogo: backgrounds, rotoscopia, design de som, trilha, e por fim a edição afinada compondo todos esses outros elementos. Pergunto pro Walkir: vai dar tempo? Até agora a resposta tem sido positiva. Espero que ele esteja certo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ruídos e Sons Musicais

A música entrou nessa história bem antes da edição ou até mesmo dos ensaios. Ela estava lá, ecooando na minha cabeça meses antes do início das gravações, me dando sugestões de possíveis cenários e climas para cada cena. Preparei um material com uns 15 discos que de alguma forma estranha possuiam uma conexão com Sara e seu mundo perdido. Separei em dois volumes: o primeiro representando os discos que ela deveria ouvir quando estava trancada no seu quarto, fugindo dos problemas; e um segundo, de canções que remetessem ao seu estado de espírito, seus sentimentos e suas dores. Ainda juntei umas 30 músicas para usar como referência na trilha sonora que iríamos compor, meses depois.

Após o término das gravações e da edição, me reuni com o Guto, passei todo o material de referência e discuti sobre os caminhos que ele poderia seguir. Expliquei que o filme estava dividido em três partes, e imaginava um tratamento sonoro distinto para cada uma delas. Conversamos muito neste primeiro encontro, porém poucas idéias concretas surgiram.

Umas duas semanas se passaram até a gente se ver novamente, desta vez no seu estúdio. Lá ele me mostrou uma espécie de colagem esquisita com sinos e corais italianos, tudo numa atmosfera sombria e fria, bem como eu havia imaginado. O Guto está mais ligado em música erudita, em composições mais orquestradas e bem mais complexas. Falei que essas coisas não caberiam neste filme e o legal foi que ele pescou toda essa esquisitice que eu queria sem grandes dificuldades. A idéia era que no começo só haveriam ruídos e colagens de sons e aos poucos uma melodia iria aparecer, progredindo para uma música mais sólida no terceiro ato.

Enfim, o Guto ficou contente em trabalharmos desta forma, para ele estava sendo uma experiência nova e para mim, estava sendo exatamente como eu havia imaginado trabalhar. Sempre achei que o diretor pode ter uma influência importante na construção musical de um filme, mesmo que muitos prefiram não interferir muito neste processo. Abaixo, algumas referências utilizadas:

Beulah - Yoko
John Lennon - Plastic Ono Band
Bright Eyes - Lifted or the story is in the soil...
M. Ward - End of Amnesia
Sean Lennon - Friendly Fire
The Doors - Strange Days
Eels - Electro Shock Blues
Clem Snide - The Ghost of Fashion
The Czars - Goodbye
Badly Drawn Boy - Have you fed the Fish
John Lurie - Fishing With John
Andrew Bird - The Mysterious Production of Eggs
Nick Drake - Five Leaves Left
Circulatory System - Circulatory System
Modest Mouse - Everywhere and His Nasty Parlour Tricks
Califone - Quicksand/Cradlesnakes

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Artes Conceituais

Com a edição pronta, era hora dos desenhistas de plantão iniciarem os trabalhos. Definimos já de cara que todos os cenários do filme teriam um tratamento especial, portanto nada que foi visto nas filmagens seria transposto para a rotoscopia. Apenas usaríamos as mesmas como referência, mantendo os objetos nos mesmos lugares, mas com um visual muito diferente daquele captado pelas câmeras.

Antes de começar o trabalho mais intenso de detalhamento de cada cenário, os desenhistas apresentaram algumas idéias pra determinadas cenas, mostrando as diferentes possibilidades artísticas para cada trecho do nosso querido filme. Nesta parte, palpitei muito e sugeri algumas mudanças, além de concordar com alguns conceitos estéticos propostos. O primeiro deles foi definido para a cena do cemitério, onde optamos por um visual monocromático, porém evitando cair no preto e branco comum. Para isso, os desenhistas propuseram um tom levemente avermelhado e uma textura que remetesse a um papel sujo e antigo. Já havia postado uma imagem deste visual e aqui insiro mais uma para vocês entenderem melhor a idéia. Abaixo dela há um estudo de um outro plano e no fim, o resultado final. Particularmente (e muito suspeitamente) gostei muito do trabalho dos desenhistas. Parabéns ao Walkir e sua equipe.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Hélio, o Contador de Histórias

Após a conclusão do roteiro, pensei na possibilidade de chamar o Hélio (Leite) para fazer um dos personagens estranhos que Sarah encontra pelo caminho. Também pensei em não escrever os diálogos desta cena, apenas ensaiarmos algumas vezes, deixando os atores improvisarem, sem estarem amarrados a algumas linhas de roteiro. Até então, conhecia o Hélio somente por aquilo que vi na feirinha de domingo. No dia que mostrei o roteiro e o storyboard pra ele, foi engraçado, pois ele falou muito pouco, soltou apenas um "Vai ficar legal". Na primeira vez que ensaiamos, ele já estava bem mais falante, havia trazido seus "brinquedos" e emendava uma história na outra. Comentei que seria legal se ele contasse alguma história que tivesse água no meio, por ser um elemento semioticamente importante no filme. Em minutos ele nos contou duas histórias muito boas, ensaiamos a cena com a segunda e achei que tinha ficado ótimo. No fim, a (cruel) edição tratou de cortar a história por comprometer o ritmo e o tempo do filme (que com ela ficaria com mais de 20 minutos).

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Na (Escura)Sala de Edição

Após o término das gravações fomos para a produtora Plano 9 munidos de pelo menos uma dezena de fitas com todo o material captado meses antes. Passamos alguns dias apenas organizando os planos e capturando somente o material que houvesse possibilidade de ser aproveitado. Conversei algumas vezes com o Sergio (Ortencio) sobre o ritmo que o filme deveria ter, os respiros e alguns possíveis cortes. Pré-editamos tudo em poucos dias e fechamos o primeiro corte que acabou ficando, como sempre, longo demais. Quase trinta minutos. Precisávamos tirar o excesso, as redundâncias e tudo que não tivesse algo a acrescentar ao entendimento da história. Cortamos um diálogo longo na segunda parte, e depois disso percebemos que o ritmo havia melhorado, criando uma unidade melhor com o restante do material.

Uma ou duas semanas se passaram quando revimos a edição, fizemos mais algumas mudanças e saí de lá com o filme "fechado". As aspas são necessárias, pois após mostrar o corte pro Walkir, este ficou com uma pulga atrás da orelha, com uma sensação de "faltou alguma coisa". Eu, Tiago, Walkir e Sandro (amigo-consultor-artístico) discutimos uma noite sobre as diferentes possibilidades de melhorarmos a primeira parte do filme, aquela que estávamos ligeiramente incomodados. Realmente eu achava que estava faltando alguma mudança na edição, algo que fugisse um pouco do roteiro, mas que funcionasse na tela. Quando fui ao banheiro, tive uma idéia que me pareceu um pouco absurda na hora, mas que se confirmou plausível no momento que voltei para sala onde estavam todos. Sugeri que mudássemos radicalmente o início do filme, simplificando um pouco os acontecimentos, e com isso, ganharíamos também no tempo total (que ainda estava longo). Saí de lá mais confiante e já no dia seguinte fiz as alterações em casa. Chamei os três lá e fechamos a edição neste último corte.